Alexandria desde a sua fundação até ao séc. I d.C.
A história do
Patriarcado de Alexandria e de Toda África está indissociavelmente
ligada à da grande cidade de Alexandria. Uma breve retrospectiva pela
história desta cidade permite-nos compreender qual era o contexto não
apenas histórico mas também cultural da fundação do Patriarcado de
Alexandria.
Alexandria foi fundada em 331 a.C. por Alexandre o Grande. Durante a sua passagem pelo Egipto, em 332 a.C.,
Alexandre confiou ao arquitecto grego Dinócrates de Rodes e a Cleómenes
de Naucrátis a tarefa de construir a cidade com base num traçado
rectangular, com ruas centrais cruzadas. Para se distinguir das outras
31 cidades de Alexandria tornou-se conhecida como «Alexandria no Egipto»
(lat. Alexandria ad Aegyptum). Foi o porto mais importante e a capital
do país durante a antiguidade, sendo que no seu auge constituiu um dos
mais destacados centros de
cultura. A cidade de Alexandria fica na parte ocidental do delta do
Nilo. Estava ligada artificialmente por uma espécie de ponte, a chamada
Heptastádio, que unia a ilha de Faros à cidade, criando assim os seus
dois portos: o Grande Porto a leste e o Porto do Bom Regresso (Εύνοστος)
a oeste. A cidade começou a florescer quando se tornou a capital do
Egipto, após a morte de Alexandre e durante o reinado de Ptololomeu I,
filho de Lagos. A partir da primeira metade do séc. III a.C., Alexandria
é enriquecida com a Biblioteca, o Farol de Sóstrato sobre a ilha de
Faros e adquire gradualmente o carácter pelo qual permanecerá famosa até
ao fim da Era Antiga.
Pela designação Biblioteca de Alexandria entende-se a antiga biblioteca da cidade de Alexandria, no Egipto,
fundada durante o período helenístico na regência de Ptolomeu I, de
cognome Salvador, com o incentivo de Demétrio de Faleros. Calímaco
registou 400.000 papiros mistos (possivelmente aqueles que continham mais que um capítulo, obra ou autor) e 90.000 puros.
Os espaços onde estavam guardados e ordenados estes papiros ficavam ou
nas salas exteriores ou no Grande Salão. Os papiros estavam ordenados
sobre grades fabricadas especialmente para esse efeito e os que se
destacavam pela qualidade estavam embrulhados com um revestimento de
linho ou pele.
A riquíssima
biblioteca de Alexandria, com a sua colecção de obras dos autores mais
importantes do mundo conhecido de então, constituiu não só o centro mas
também o ponto de partida para o desenvolvimento de variadas ciências,
como a matemática, a geometria, a astronomia e a medicina. A posição
geográfica excepcional de Alexandria consagrou-a como cadinho de
culturas e ideias, uma vez que aí se encontraram duas das mais
importantes civilizações, a helénica e a egípcia, sem menosprezo pelo
papel das outras comunidades de Alexandria (romana, síria, indiana,
judia e persa, como é mencionado por São João Crisóstomo).
Dentro deste
espírito é de destacar o feito da Tradução da Septuaginta (70.º) na
Alexandria das letras. Esta tradução para o dialecto comum helénico foi
provavelmente realizada desde o séc. III a.C. até ao séc. I a.C. por 72
estudiosos judeus.
Fundação da Igreja de Alexandria durante o séc. I d.C.
Foto daqui
O fundador da
Igreja de Alexandria foi São Marcos Evangelista. As informações sobre a
figura de São Marcos provêm principalmente do Novo Testamento. São
Marcos Evangelista era filho de Maria, irmã do Apóstolo Barnabé. Conta a
história que foi ele que segurou o cântaro de água e conduziu os
Apóstolos ao senhor da casa que recebeu Jesus na Última Ceia ou o jovem
que foi preso em Getsémani e que fugiu.
São Marcos
Evangelista foi o primeiro a decidir pregar sistematicamente o Evangelho
e a fundar Igreja em Alexandria, como salienta Eusébio: dizem
também que o próprio Marcos primeiro foi enviado para o Egipto, pregou o
Evangelho, o qual igualmente redigiu, e foi o primeiro a fundar Igreja
nesta cidade de Alexandria. A escolha de São Marcos de se dirigir
a Alexandria cerca de 15 anos depois da Crucificação e da Ressurreição
de Cristo em Jerusalém não foi fortuita. Aparentemente, a conjuntura
particular que se vivia em Alexandria favorecia a divulgação do
Cristianismo por intermédio dos judeus na diáspora, que tinham já há
bastante tempo uma comunidade em desenvolvimento na região e aos quais
havia já chegado a mensagem do Evangelho. São Marcos Evangelista
permaneceu na liderança da Igreja de Alexandria por cerca de 22 anos e
sofreu um martírio mortal ao ser arrastado pelas ruas da cidade, por
volta do ano 62 d.C., durante a sua segunda viagem. Celebramos em sua
memória o dia 25 de Abril.
A morte de São
Marcos não significou o fim da Igreja de Alexandria, visto que tinham
sido lançadas bases sólidas da Fé Cristã e a mensagem do Evangelho
prevaleceu inalterada. Após o martírio e morte do Evangelista, sucessor e
segundo bispo de Alexandria foi Aniano. A primeira Igreja era
constituída principalmente por gregos e judeus. A comunidade egípcia
aparentemente não participou activamente na primeira Igreja de
Alexandria, uma vez que, como referem a propósito muitos investigadores,
não se encontra qualquer nome de origem egípcia nas listas da Diocese [Nota nosso Blog : Mas há muitos ermitões, santos da Igreja Ortodoxa, com nomes egípcios].
A Fundação da Escola de Alexandria
Desde os primeiros dias da sua existência, a Igreja de Alexandria teve de enfrentar crenças heréticas, como o gnosticismo introduzido por Basílides. Nos esforços da Igreja de Alexandria no sentido de enfrentar essas correntes heréticas foi fundada a Escola Catequética na cidade de Alexandria, onde serviram grandes figuras das letras teológicas, como Panteno, Clemente, Orígenes, responsável pela reorganização da Escola, que a tornou conhecida para além das fronteiras do Egipto, Dídimo o Cego, entre outros. O método da interpretação alegórica introduzido por Orígenes consagrou-a, além de importantíssima escola teológica, como método de interpretação e tendência teológica.
O período das perseguições
A partir dos
inícios do séc. III d.C., a Igreja de Alexandria, além das discórdias
teológicas, teve também de enfrentar as perseguições. O início deu-se
com a perseguição, em 202, a mando de Septímio Severo, que, desagradado
com a grande acção que vinha a ser desenvolvida pela Escola de
Alexandria, proibiu a conversão ao Judaísmo e ao Cristianismo. As
perseguições continuaram na época de Décio (249-251), de Valeriano
(253-260), quando muitos cristãos foram obrigados a abandonar a cidade
devido à crueldade de ambos, na época de Diocleciano (303-305), de
Galério (305-311) e, por fim, de Maximino (311-312), que por decreto seu
obrigava os cristãos a sacrificar aos ídolos. Durante o período da
derradeira perseguição de Maximino, tornou-se mártir o Bispo de
Alexandria Pedro por decapitação, a 25 de Novembro de 311. Apesar do
facto de durante o período das perseguições a Igreja de Alexandria ter
tido igualmente de enfrentar as correntes heréticas, permaneceu firme,
implementando mesmo o seu próprio typikon litúrgico, ou seja, o conjunto de regras da liturgia de São Marcos.
Período do apogeu do Patriarcado de Alexandria do séc. IV ao séc. VII d.C.
Após o fim das
perseguições, a Igreja de Alexandria conheceu grande apogeu mas foi
abalada por grupos heréticos e falsa fé. Na lei VI do 1.º Sínodo
Ecuménico está referido que o Bispo de Alexandria detém a segunda
posição na primazia de honra entre os Patriarcados, depois do de Roma.
Por fim, o Patriarcado de Alexandria ficou classificado na terceira
posição na primazia de honra, depois do Patriarcado de Constantinopla,
por decisão do 2.º Sínodo Ecuménico, em 381. Considera-se que o primeiro
Papa de Alexandria foi Héracles.
Outro ponto de
referência deste período é o aparecimento do ascetismo no deserto do
Egipto. O ascetismo apareceu inicialmente durante o período das
perseguições mas conheceu grande florescimento no séc. IV d.C. no
deserto de Nítria. Aí praticaram o ascetismo grandes figuras como Santo
Antão do Deserto, Amónio, Pacómio, Macário o Egípcio (fotografia), entre outros. A
partir do deserto de Nítria, onde nasceu, o ascetismo espalhou-se à
região da Península de Sinai, à Palestina, etc. Aliás, o mosteiro de
Santa Catarina no Sinai era protegido por aktimané (testamento) assinado
pelo próprio Maomé no ano de 624.
[Veja também Padres do Deserto e Ditos dos Padres do Deserto]
Durante um grande
período, a Igreja de Alexandria teve de enfrentar o ensino herético, que
ameaçava a sua unidade. A seita mais séria era a de Ário, a qual viria a
ser a razão pela qual foi convocado o 1.º Sínodo Ecuménico de Niceia,
em 325. Nesse Sínodo participou Santo Atanásio de Alexandria, que
criticou de forma fulminante a seita de Ário. A Igreja de Alexandria foi
abalada uma vez mais com o ensino de Nestório, o qual foi enfrentado
pelo 3.º Sínodo Ecuménico, em 451. Um facto de entristecer foi o
posterior cisma da Igreja de Alexandria, com a criação da Igreja Copta.
O período do domínio Árabe do séc. VII ao séc. XVI d.C.
Por volta de 642,
Alexandria foi ocupada pelos Árabes. Este período é considerado como um
dos mais difíceis por que passou o Patriarcado de Alexandria. Com a
ocupação da cidade, o trono patriarcal ficou vago por volta de 75 anos.
Em 704 começou uma grande perseguição face aos cristãos da cidade.
Muitos foram os que emigraram e muitos templos e instituições foram
destruídos.
Um farol nesta
realidade obscura constituiu a acção do Patriarca Cosme, que, por
intermédio de um esforço intenso, conseguiu recuperar muitos templos que
tinham sido perdidos. Outro período difícil foi durante o domínio de Al
Hakim (985-1021). Este período caracteriza-se por destruição
generalizada de mosteiros e actos de violência contra os cristãos
ortodoxos. Aliás, bastantes vezes o Patriarca ortodoxo ficou sem fiéis
pois, devido às perseguições, os cristãos abandonavam os seus lares em
busca de um refúgio mais seguro. Após o assassinato do Patriarca
Arsénio, o seu sucessor Teófilo II refugiou-se em Constantinopla em
busca de segurança. Em algumas ocasiões a escolha do novo Patriarca
chegou a ser feita em Constantinopla, uma vez que não havia as condições
adequadas para a sua realização na sede natural do Patriarcado de
Alexandria.
Durante o período de
domínio árabe, o Patriarcado de Alexandria esteve prestes a ser
totalmente extinto. O número de cristãos ortodoxos conheceu uma redução
drástica, uma vez que de 300 000 que se calculavam no início deste
período restaram menos de 100 000 no seu fim. O período de domínio árabe
de Alexandria chegou ao fim com a sua conquista pelos turcos.
O período de domínio turco 1517-1821
Em 1517, o Egipto
foi ocupado pelos turcos e pararam as perseguições, abrindo-se um novo
capítulo para os cristãos. Com a queda de Constantinopla, os
Patriarcados enfrentaram sérios problemas, uma vez que dependiam
economicamente do Patriarcado Ecuménico. Neste período, ao trono
patriarcal tinha subido Joaquim I, o qual tinha excelentes relações com
todos os Patriarcados Ortodoxos e principalmente com o de Moscovo, a tal
ponto que conseguiu que fosse reforçado economicamente por Ivan, o
Terrível. Logrou até receber decreto especial de Selim I, que lhe
concedia privilégios e lhe garantia o normal funcionamento do
Patriarcado, permitindo-lhe executar livremente os seus deveres. A
preciosa ajuda que chegava do Patriarcado de Moscovo permitiu aos
patriarcas de Alexandria restaurar e embelezar muitos templos. Muitas
relíquias e ícones sagrados que existem nos templos provêm deste
período.
Ao Patriarca Joaquim
sucederam outros brilhantes patriarcas, como Melécio Pegas e Cirilo III (fotografia).
Parténio II tratou de registar e enriquecer os livros e manuscritos da
biblioteca do Patriarcado, que se contam hoje em cerca de 40 000
volumes. O Patriarcado de Alexandria até meados do séc. XIX conheceu um
novo desenvolvimento e reconquistou um grande número de templos e
paróquias.
O período de 1821 até hoje
O séc. XIX na sua
totalidade constituiu um dos melhores períodos para o Patriarcado de
Alexandria. As perseguições cessaram completamente e assim era possível,
de certa forma, continuar livremente a sua obra.
Regeneradora foi a
acção do filélina Mehmet Ali Passás (Mohamet Aly) de permitir que se
instalassem de novo gregos no Egipto, dando oportunidade ao Patriarcado
de fundar hospitais, escolas e muitas outras instituições. Sem ter de
enfrentar obstáculos, o Patriarcado fundou novas dioceses e dedicou-se
ao missionarismo além-fronteiras. Melécio II Metaxakis (1926-1936)
aumentou as Metrópoles do Patriarcado de Alexandria e Toda África,
fundando mesmo a Metrópole de Joanesburgo, na qual estava incluída
inicialmente a Diocese de Moçambique.
O Patriarca de Alexandria Theodoros II
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