Κυριακή 20 Σεπτεμβρίου 2015

A Liturgia Ortodoxa: "O Céu na Terra"


Santa Igreja Ortodoxa dos Arcanjos, Kinshasa (daqui)

Orthodox Mozambique


«A Igreja é o Céu na terra
no qual o Deus celeste habita e se move.»
(Santo Germanus, Patriarca de Constantinopla,
733).

Doutrina e liturgia

Há uma história na Russian Primary Chronicle de como Vladimir, príncipe de Kiev, enquanto ainda pagão, desejou conhecer qual era a Religião verdadeira, e por isso mandou seus seguidores visitar vários paises do mundo.

Eles foram primeiro para os Búlgaros Muçulmanos do Volga mas observando que eles quando oravam olhavam esgazeados em torno de si como se estivessem possuídos, os Russos continuaram sua viagem insatisfeitos. "Não há alegria entre eles," eles reportaram a Vladimir, mas muitas lamentações e um forte cheiro; e não há nada de bom em seu sistema." Viajando em seguida para Alemanha e Roma, eles acharam a louvação mais satisfatória, mas reclamaram que lá também não existia beleza. Finalmente eles viajaram para Constantinopla, e lá finalmente, quando eles assistiram a Divina Liturgia na Grande Igreja de Santa , eles descobriram o que eles desejavam. "Nós não sabemos se nós estávamos no céu ou na terra, pois certamente não há tal esplendor e beleza em nenhum lugar da terra. Nós não podemos descreve-la para o Senhor: Só sabemos isso, que Deus habita lá entre os homens, e seus ofícios ultrapassam a louvação de todos os outros lugares. Nós não podemos esquecer aquela beleza." 



Todos os santos da Rússia (daqui)
 
Nessa história podem ser vistos vários aspectos característicos do Cristianismo Ortodoxo. Há primeiro a ênfase sobre a divina beleza: não podemos esquecer aquela beleza. Tem parecido a muitos que o dom peculiar dos povos Ortodoxos — e especialmente Bizâncio e Rússia — é esse poder de perceber a beleza do mundo espiritual, e exprimir essa beleza em sua louvação.

Em segundo lugar é característico aquilo que os Russos devem ter dito: Nós não sabíamos se estávamos no céu ou na terra. Louvação, para a Igreja Ortodoxa, é nada mais do que "o céu na terra." A Sagrada Liturgia é algo que abraça dois mundos de uma vez, pois em ambos, no céu e na terra a Liturgia é uma e a mesma — um altar, um sacrifício, uma presença. Em todos os lugares de louvação, ainda que humilde em sua aparência exterior, quando os fiéis se juntam para celebrar a Eucaristia, eles são levados para cima para os "lugares celestes"; em todo lugar de louvação quando o Santo Sacrifício é oferecido, não somente a congregação local está presente, mas a Igreja Universal — os Santos, Os Anjos, a Mãe de Deus e o próprio Cristo. "Agora os poderes celestes celebram invisivelmente conosco" (palavras cantadas na Grande entrada da Liturgia dos Pré-Santificados) Isso nós sabemos, que Deus habita lá entre os homens.

Os Ortodoxos, inspirados por essa visão do "Céu na Terra" empenharam-se em fazer da sua louvação em esplendor e beleza externos, um Ícone da Grande Liturgia no Céu. No ano 642, o pessoal da Igreja de Santa era composto de 80 padres, 150 diáconos, 40 diaconisas, 70 subdiáconos, 160 leitores, 25 cantores e 100 guardadores das portas: Isso dá uma pálida idéia da magnitude do ofício que os enviados do Príncipe Vladimir assistiram. Mas muitos que experimentaram a louvação ortodoxa nos mais variados ambientes sentiram, não menos que os Russos de Kiev, um sentimento da presença de Deus entre os homens. Viremos, por exemplo da Russian Primary Chronicle para a carta de uma mulher inglesa escrita em 1935:

«Esta manhã foi tão esquisita. Uma sala muito suja e sórdida de uma missão presbiteriana construída sobre uma garagem, onde aos russos é permitido celebrar quinzenalmente a Liturgia. Uma iconostase improvisada e removível montada com material de palco e alguns poucos ícones modernos. Um chão sujo para se ajoelhar e um lambri ao longo da parede... E nesse lugar dois soberbos padres velhos, um diácono, nuvens de incenso e, na Anáfora, uma impressionante impressão sobrenatural.» (The Letters of Evelyn Underhill, pg. 2.18)
Existe ainda uma terceira característica que a história dos enviados do príncipe Vladimir ilustra. Quando eles quiseram descobrir a verdadeira fé, os Russos não perguntaram acerca de regras morais nem demandaram uma razoável apresentação da doutrina, mas eles observaram as diferentes nações em oração. A aproximação Ortodoxa da religião é fundamentalmente uma aproximação litúrgica, que compreende a doutrina no contexto de louvação divina; não é coincidência que a palavra Ortodoxia signifique tanto crença correta quanto louvação correta, pois as duas coisas são inseparáveis. Foi dito corretamente dos Bizantinos: "Com eles dogma não é só um sistema intelectual apreendido pelo clero e exposto aos leigos, mas um campo de visão no qual todas as coisas na terra são vistas em sua relação com as coisas no céu, primeiramente e principalmente através da celebração Litúrgica." (G. Every, The Bizantine Patriarchate, primeira edição, pg.9). Nas palavras de Georges Florovsky: "Cristianismo é uma religião litúrgica. A Igreja é antes de tudo uma comunidade de louvação. Louvação vem antes, doutrina e disciplina depois." (The Elements of Liturgy in the Orthodox Catholic Church, no periódico One Church, Vol.13, New York, 1959, nrs. 1-2, pg.24). Aqueles que querem conhecer sobre Ortodoxia não devem tanto ler livros como seguir o exemplo da comitiva de Vladimir e assistir a Liturgia. Como Felipe disse para Natanael: "Vem, e vê" (Jo. 1:46).

Sagrada Comunhão no Quênia (foto daqui)
 
Porque eles se aproximam da Religião desse modo litúrgico, os Ortodoxos freqüentemente atribuem a pontos de detalhe do ritual uma importância que deixa atônitos os Cristãos ocidentais. Mas uma vez que se tenha entendido a posição central da louvação na vida da Ortodoxia, um incidente como o do cisma dos Velhos Crentes não mais parecerá inteiramente ininteligível: se louvação é a fé em ação, então modificações na Liturgia não podem mais serem olhadas superficialmente. É típico que um escritor Russo do século quinze, quando atacando o Concílio de Florença, tenha encontrado falhas nos latinos, não em erros doutrinais, mas pelo seu comportamento na louvação: "O que vos vistes de valor entre os latinos? Eles não sabem nem como venerar a Igreja de Deus. Eles elevam suas vozes como tolos, e o seu canto é um lamurio discordante. Eles não têm idéia de beleza e reverência na louvação, pois eles tocam trombones, assopram cornetas, usam órgãos, elevam suas mãos, batem os pés e fazem muitas outras coisas irreverentes e desordenadas que trazem alegria para o diabo." (Citado em N. Szernov, Moscow the Third Rome, pg.37; Eu cito essa passagem, simplesmente como um exemplo da aproximação litúrgica da Liturgia, sem necessariamente endossar os comentários críticos sobre a louvação ocidental, que ela contém!).

A Ortodoxia, vê o homem acima de tudo como uma criatura litúrgica que é mais verdadeiramente ele próprio quando ele glorifica Deus, e que acha sua perfeição e se completa quando em louvação. Na Sagrada Liturgia que expressa sua fé, o povo Ortodoxo despejou sua completa experiência religiosa. Foi a Liturgia que inspirou sua melhor poesia, arte, e música. Entre os Ortodoxos, a Liturgia nunca tornou-se a preservadora dos instruídos e do clero, como ela tendeu a ser no ocidente medieval, mas ela manteve-se popular — a posse comum de todo o povo cristão: "O Ortodoxo normal fica louvador, por familiaridade desde a tenra infância, sente-se inteiramente em seu lar na Igreja, inteiramente participante nas partes audíveis da Liturgia, e toma parte com inconsciente e não estudada facilidade nas ações do rito, numa extensão só compartilhada pelos hiper-devotos e de mentalidade eclesiástica no ocidente" (Austin Oacley, The Orthodox Liturgy, Londres, 1958, pg.12).

No dias negros de sua história — sob os mongóis, os turcos e os comunistas — foi para a Sagrada Liturgia que os povos Ortodoxos sempre se voltaram buscando inspiração e esperança nova; e eles não se voltaram em vão.

O arranjo exterior dos Ofícios: O Sacerdote e os fiéis

O padrão básico de ofícios é o mesmo na Ortodoxia que o da Igreja Católica Romana: Há, primeiro, A Sagrada Liturgia (A Eucaristia ou Missa); secundariamente, o Ofício Divino (i.e. os dois principais ofícios de Matinas e Vésperas junto com as seis "horas menores" de Noturnas, Primeira, Tércia, Sexta, Nona e Completas; na Igreja Romana o oficio de Noturnas é uma parte da Matinas, mas no Rito Bizantino Noturnas é um ofício separado. A Matinas Bizantina é equivalente a Matinas e Laudes no Rito Romano); e por fim, os Ofícios Ocasionais — i.e. Ofícios indicados para ocasiões especiais, tais como Batismo, Casamento, Recepção Monástica, Coroação Real, Consagração de uma Igreja, Sepultamento dos Mortos (Em adição a esses, a Igreja Ortodoxa faz uso de uma grande variedade de bênçãos menores).

Enquanto em muitas igrejas paroquiais anglicanas e em quase todas Igrejas paroquiais Romanas, a Eucaristia é celebrada diariamente, na Igreja Ortodoxa de hoje a Liturgia diária não é usual a não ser em catedrais e grandes Mosteiros; numa Igreja Paroquial normal é celebrada aos Domingos e festas. Mas na Rússia em muitas paróquias de cidades,o Ofício Divino é recitado diariamente em Mosteiros, grandes e pequenos, e em algumas catedrais; também em muitas das paróquias de cidades na Rússia. Mas em uma Igreja Ortodoxa Paroquial é cantado nos fins de semana e festas. As Igrejas Gregas mantêm vésperas aos sábados à noite, e Matinas no Domingo de manhã antes da Liturgia; nas Igrejas Russas a Matinas é usualmente "antecipada" e cantada imediatamente após vésperas aos sábados à noite, de maneira que Vésperas e Matinas, seguidas de Primeira hora, junto constituem o que é chamado de "Ofício de Vigília" ou "Vigília de Toda Noite." Assim, enquanto Cristãos ocidentais, se celebram no início da noite, tendem a fazer isso no Domingo, os Cristãos ortodoxos celebram ao anoitecer de sábados. 


Liturgia ortodoxa na Guatemala (daqui)

Em seus ofícios a Igreja Ortodoxa usa a Língua do povo: Árabe em Antioquia, Finlandês em Helsinque, Japonês em Tókio, Inglês (quando solicitado) em Nova York. Uma das primeiras tarefas dos missionários Ortodoxos — de Cirilo e Metódio no século nove, a Inocente Veniaminou e Nicolau Kassatkin no século dezenove — foi sempre traduzir os livros de ofícios nas línguas nativas. Na prática, no entanto, existem exceções parciais a esse princípio geral de ser usado o vernacular: As Igrejas de língua Grega usam, não o grego moderno, mas o Grego do Novo Testamento e dos tempos Bizantinos, enquanto a Igreja Russa ainda usa as traduções do século nove em eslavônico de Igreja. No entanto em ambos os casos as diferenças entre a linguagem litúrgica e o vernáculo contemporâneo não é tão grande a ponto de tornar os ofícios ininteligíveis para a congregação. Em 1906 muitos Bispos Russos de fato recomendaram que o eslavônico fosse substituído mais ou menos generalizadamente pelo Russo moderno, mas a revolução Bolchevik ocorreu antes que esse esquema fosse implantado de fato.

Na Igreja Ortodoxa hoje, como na Igreja do início, todos os ofícios são cantados. Não existe na Ortodoxia o equivalente à Católica Romana "Low Mass" (O equivalente à "Low Mass" Católico-Romana) ou à Anglicana "Said Mass" (Missa que é falada, não cantada pelo celebrante que é assistido por um auxiliar e que é muito menos cerimonial que a High Klass, não se usando nem música nem coro.) Em todas as liturgias, assim como em todas Matinas e Vésperas; é usado incenso e o ofício é cantado, ainda que não tenha coro ou congregação, mas só o Padre e um só leitor. Na música de sua Igreja os Ortodoxos de língua Grega continuam a usar o antigo canto Monotônico Bizantino com seus oito "Tons." Esse canto monotônico os missionários Bizantinos levaram consigo para as terras eslavas, mas com os séculos ele se tornou extensivamente modificado, e as várias Igrejas eslavas cada qual desenvolveu seu estilo próprio e musica eclesiástica tradicional. Dessas tradições as musicas eclesiásticas Russas são as mais conhecidas e as mais atrativas para ouvidos ocidentais; muitos consideram a música Russa a melhor dentro de toda Cristandade, e tanto na União Soviética quanto na Igreja Russa emigrada existem corais mui justamente celebrados. Até muito recentemente todos os cantos na Igreja Russa eram normalmente feitos pelo coral; hoje um pequeno porém crescente número de paróquias na Grécia, Rússia, Romênia e na Diáspora estão começando a reviver o canto congregacional — se não durante todo o ofício, pelo menos de qualquer modo em momentos especiais como no Credo e no Pai Nosso.

Na Igreja Ortodoxa de hoje, como na Igreja primitiva, o canto não é acompanhada por qualquer instrumento e não existe música instrumental. A maioria dos Ortodoxos não usam sinos de mão ou de santuário dentro da Igreja; mas eles tem fora da Igreja ou anexa a ela torres com sinos, e tem muito prazer em tocar esses sinos não só antes mas em vários momentos durante os ofícios. O toque de sinos Russos costumava ser particularmente famoso. "Nada," escreveu Paulo de Alepo, durante sua visita a Moscou em 1655, "me afetou tanto quanto o soar conjunto de todos os sinos nas vésperas de domingos e grandes festas, e à meia-noite antes das festas. A terra treme com suas vibrações, e como trovão o zumbido de suas vozes vai para o alto dos céus! "Eles tocam seus sinos de bronze de acordo com seus costumes. Que Deus não se choque com o barulho desagradável de seus sons" (The Travels of Macarius, Editado por Ridding, pg. 27 e p. 6).


Foto daqui

Uma Igreja Ortodoxa usualmente é mais ou menos quadrada no plano, com um largo espaço central coberto com um dono. (na Rússia o domo das Igrejas assumiu aquela surpreendente forma de cebola que dá um aspecto tão característico a quase todas paisagens). As naves alongadas, comum nas catedrais e grandes igrejas paroquiais do estilo gótico, não são encontradas na arquitetura de Igrejas Orientais. Como regra não existem cadeiras ou bancos na parte central da Igreja, apesar de poderem existir colocadas ao longo da parede. Um Ortodoxo normalmente fica em pé durante os ofícios da Igreja (não Ortodoxos visitantes freqüentemente ficam atônitos ao verem mulheres velhas permanecendo em pé por muitas horas sem sinais aparentes de fadiga); mas há momentos nos quais a congregação pode se sentar ou ajoelhar-se. O Cânon 20 do Primeiro Concílio Ecumênico proíbe qualquer ajoelhamento aos domingos ou em qualquer dos cinqüenta dias entre a Páscoa e o Pentecostes; mas infelizmente hoje em dia essa regra não é mais sempre estritamente observada.

É uma coisa notável a grande diferença que faz a presença ou ausência de bancos no espírito da louvação Cristã. Existe na louvação Ortodoxa uma flexibilidade, uma informalidade inconsciente, não encontrada entre as congregações ocidentais.

Os fiéis ocidentais enfileirados nos seus arrumados bancos, cada um no seu lugar próprio, não podem se movimentar durante os ofícios sem causar perturbação; uma congregação ocidental é esperada que chegue no início e fique até o fim. Mas nos ofícios ortodoxos o Povo pode ir e vir muito mais livremente, e ninguém fica surpreso se alguém se movimenta durante o ofício. A mesma informalidade e liberdade também caracteriza o comportamento do clero: A movimentação cerimonial não é tão minuciosamente prescrita como no ocidente, os gestos do Padre são menos estilizados e mais naturais. Essa informalidade, enquanto de um lado pode levar algumas vezes à irreverência, do outro lado é, no fim, uma qualidade preciosa que os Ortodoxos ficariam muito tristes se perdessem, Eles estão em casa em sua Igreja — não tropas em uma parada, mas crianças na casa de seu Pai. A louvação Ortodoxa é freqüentemente chamada de "de outro mundo" mas poderia ser mais verdadeiramente ser chamada de "caseira" ou "no lar": É um assunto familiar. No entanto, por trás dessa informalidade e intimidade existe um profundo sentimento de Mistério.

Em toda Igreja Ortodoxa o Santuário é separado do resto pela iconostase, uma separação sólida, muitas vezes de madeira coberta com ícones. Nos dias antigos o santuário era separado somente por uma parede baixa de um metro ou pouco mais. Muitas vezes essa separação tinha uma série de colunas que suportavam uma luminária horizontal ou uma trave: Algo desse tipo pode ainda ser visto hoje na Igreja de São Marco, em Veneza. Só em comparativamente mais recentes tempos — em muitos lugares não antes aos séculos quinze ou dezesseis — esse espaço entre as colunas foi preenchido, e a iconostase apresentou sua atual forma sólida. Muitos liturgistas Ortodoxos hoje em dia ficariam satisfeitos em seguir o exemplo de São João de Kronstadt, e reverter para um tipo mais aberto de iconostase: em alguns poucos lugares isso na verdade já foi feito.
 



A iconostase é aberta em três locais com portas. A porta grande no centro — a Porta Real — quando aberta permite uma vista do altar. Essa porta é em duas metades, atrás das quais fica uma cortina. Fora do tempo de ofícios, com exceção da semana após a Páscoa (semana Jubilosa), as portas são mantidas fechadas e a cortina também. Durante os ofícios, em momentos particulares as portas são abertas, ou fechadas, enquanto que ocasionalmente as portas estão fechadas e a cortina aberta. Muitas paróquias Gregas, no entanto, não fecham mais as portas e as cortinas em qualquer momento da Liturgia; em certas Igrejas as portas foram removidas, enquanto outras Igrejas seguiram um caminho que é liturgicamente mais correto mantendo as Portas mas removendo as cortinas. Das duas outras portas, a da esquerda conduz ao altar da Prothesis ou Preparação (onde são mantidos os vasos sagrados, e onde o Padre prepara o pão e o vinho no começo da Liturgia); a da direita conduz ao Diakonikon (agora geralmente usado como local de paramentação, mas originalmente o local onde os livros sagrados, particularmente o evangeliário, eram guardados junto com as relíquias). Leigos não são permitidos a irem além da iconostase, exceto por razões especiais como prestar algum serviço na Liturgia. O altar em uma Igreja Ortodoxa — A Mesa Sagrada ou Trono como é chamado — fica livre no centro do santuário; atrás do altar, contra a parede é colocado o trono do Bispo. 



Daqui

As Igrejas Ortodoxas são cheias de ícones — na iconostase, nas paredes, em relicários especiais, ou numa espécie de escrivaninha onde eles podem ser venerados pelos fieis. Quando um Ortodoxo entra na Igreja, sua primeira ação é comprar velas, ir para a frente de um ícone, fazer o sinal da cruz, beijar o ícone e acender uma vela em frente a ele. "Eles são grandes oferecedores de velas," comentou o mercador inglês Richard Chancelor, visitando a Rússia no reinado de Elizabeth I. Na decoração da Igreja, as várias cenas iconográficas e figuras não são dispostas fortuitamente, mas sim de acordo com um esquema teológico definido, de maneira que o edifício todo forme um grande ícone ou imagem do Reino de Deus. Na arte religiosa Ortodoxa, como na arte Religiosa do ocidente medieval, há um elaborado sistema de símbolos, envolvendo cada parte do prédio da Igreja e de sua decoração. Ícones, frescos e mosaicos não são meros ornamentos, com a finalidade de fazer a Igreja "parecer bonita," mas tem uma função teológica e litúrgica a preencher.

Os ícones que enchem a Igreja servem como ponto de encontro entre o céu e a terra. Como cada congregação ora Domingo após Domingo, cercada pelas figuras de Cristo, dos Anjos e dos Santos, essas imagens visíveis relembram os fiéis incessantemente da presença invisível de toda companhia do céu na Liturgia. Os fiéis podem sentir que as paredes da Igreja, se abrem para a eternidade, e eles são ajudados a constatar que sua liturgia é uma e a mesma com a Grande Liturgia do Céu. Os múltiplos ícones expressam visivelmente o sentido de "céu na terra."

A louvação da Igreja Ortodoxa é comum e popular. Qualquer não-Ortodoxo que assista os ofícios Ortodoxos com alguma freqüência constatará rapidamente quão próxima a comunidade orante toda, Padre e povo também, está junta em uma só; entre outras coisas, a ausência de bancos ajuda a criar um sentimento de unidade. Apesar da maioria das congregações Ortodoxas não participar do canto, executado por um coral, não se deveria daí imaginar que eles não estejam tomando parte real no ofício; nem a iconostase — mesmo na sua presente forma sólida — faz o povo se sentir cortado do Padre no santuário.Em todo caso, muitas das cerimônias têm lugar em frente da iconostase, à vista completa da congregação.

Os leigos Ortodoxos não usam a frase "assistir a missa," pois na Igreja Ortodoxa a Liturgia nunca foi algo feito pelo clero para o povo, mas sim alguma coisa que clero e povo celebram juntos. No ocidente medieval, onde a Eucaristia era celebrada em uma língua erudita não entendida pelo povo, os homens iam à Igreja para adorar a hóstia na Elevação, e por outro lado tratavam a Missa principalmente como uma ocasião conveniente para dizer suas orações privadas (tudo isso, por certo, foi agora mudado no ocidente pelo Movimento Litúrgico). Na Igreja Ortodoxa onde a Liturgia nunca cessou de ser uma ação comum celebrada pelo Padre e pelo Povo juntos, a congregação não vai a Igreja para dizer suas orações privadas, mas para dizer as orações públicas da Liturgia e tomar parte na própria ação do Rito. A Ortodoxia nunca passou pela separação entre a Liturgia e a devoção pessoal que ocorreu (e que fez muito sofrer) no ocidente medieval e pós-medieval.

Certamente a Igreja Ortodoxa, assim como o ocidente, tem necessidade de um Movimento Litúrgico; na verdade, alguns desses movimentos já começaram ainda que pequenos em muitas partes do mundo Ortodoxo (renascimento do canto congregacional, portas da Porta Real deixadas abertas durante a Liturgia, formas mais abertas de íconostase, e assim por diante). No entanto o escopo desse Movimento Litúrgico será na Ortodoxia muito mais restrito, porque as modificações requeridas são muito menos drásticas. O sentido de oração corporativa cujo restauro e o principal objetivo da reforma litúrgica no ocidente, nunca cessou em ser uma realidade na Igreja Ortodoxa.
 

Sagrada Comunhão em Moçambique, o Natal 2014 (daqui)

 Há na maioria das louvações Ortodoxas uma qualidade não apressada e fora do tempo, um efeito produzido em parte pela repetição constante de Litanias. Tanto na forma mais longa quanto na mais curta, a Litania ocorre várias vezes em todo ofício Ortodoxo do Rito Bizantino. Nessas Litanias, o diácono (senão existir, o Padre) chama o povo para rezar para as várias necessidades da Igreja e do mundo, e a cada petição o coro e o povo responde Senhor, tem piedade — Kirie Eleison em Grego, Gospodi pomilui em Russo — provavelmente as primeiras palavras de um ofício Ortodoxo que um visitante acompanha (em algumas litanias a resposta é mudada para Concede, Senhor).

A congregação se associa com as diferentes intercessões fazendo o sinal da cruz e se inclinando. No geral, o sinal da cruz é empregado muito mais freqüentemente pelos fieis Ortodoxos que pelos ocidentais, e existe uma liberdade muito maior sobre os momentos em que ele é usado: diferentes fiéis fazem o sinal da cruz em diferentes momentos quando eles querem apesar de logicamente existirem ocasiões nos ofícios quando praticamente todos fazem o sinal da cruz ao mesmo tempo.

Nós descrevemos a louvação Ortodoxa como fora do tempo e não apressada. Muitas pessoas do ocidente têm a idéia que os ofícios bizantinos, mesmo que não literalmente fora do tempo, são de qualquer modo de uma duração extrema e intolerável. Certamente as funções Ortodoxas tendem a ser mais prolongadas que suas contrapartes ocidentais, mas não devemos exagerar. É perfeitamente possível celebrar a Liturgia Bizantina, com uma curta Homilia, em uma hora e um quarto, e em 1943 o Patriarca de Constantinopla determinou que nas Paróquias sob sua jurisdição a Liturgia Dominical não deveria durar mais do que uma hora e meia. Os Russos no geral levam mais tempo para celebrar os ofícios que os Gregos, mas numa paróquia da Imigração normal, o ofício de Vigília no sábado a noite não leva mais que duas horas, e freqüentemente menos. Ofícios monásticos naturalmente são mais longos, e no Monte Athos nas Grandes Festas o Ofício as vezes chega a levar doze ou mesmo quinze horas em intervalo, mas no conjunto todo isso é algo excepcional.

Os não-Ortodoxos devem ficar sabendo que de fato Ortodoxos freqüentemente ficam tão alarmados quanto eles com a duração dos ofícios; "E agora nos entramos no nosso trabalho e angústia," escreve Paulo de Alepo em seu diário quando ele entrou na Rússia. "Pois todas as Igrejas deles são vazias de assentos. Não existe nenhum, nem para o Bispo; vê-se o povo todo durante todo o ofício em pé como Rochas, sem se movimentar e incessantemente inclinando-se com sua devoção. Deus nos ajude com a duração de suas orações e cantos e missas, pois nós sofremos muita dor, de modo que nossas almas são torturadas com fadiga e angustia! E no meio da Semana Santa ele exclama: "Deus conceda-nos especial ajuda para passar pelo todo dessa presente semana! Pois os Moscovitas, tem seguramente os pés feitos de ferro" (The Travels of Macarius, editado por Ridding, pg.14 e pg.46). 


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