Entrevista com Stephane Muntu
Stepanhe Muntu e outros salmistas Sagrada Liturgia campal no RJ - 2014 |
A equipe do Blog Aurora
Ortodoxia tem a honra de entrevistar Stephane Muntu, cristão ortodoxo e
salmista bizantino do Congo. Atualmente no Brasil, estudante universitário, ele
embeleza celebrações litúrgicas de algumas paróquias ortodoxas no Rio de
Janeiro com suas melodias bizantinas. Por esta ocasião, adentraremos um pouco
na ação da Fé Ortodoxa no Congo, através do excelente trabalho missionário do
Patriarcado Grego de Alexandria, berço de tamanha riqueza.
AuroraOrtdoxia: Stephane, muito obrigado por nos dedicar um pouco
de seu tempo! Por favor, fale-nos um pouco da Ortodoxia na África e em seu
país, o Congo.
Stephane Muntu: “Antes que minha
grosseira e suja boca se abra e comece a falar, seria bom que eu pedisse perdão
aos piedosos leitores por ousar a falar, eu que sou um ignorante e não sei o
que estou a fazer. Acredito abrir minha boca para responder às questões que me
são colocadas. No entanto, como saber se a verdadeira razão não é de fato meu
imenso orgulho, orgulho este oculto em mim a tal ponto que não posso discernir
por si mesmo. Se tal é o caso, eu vos suplico de orar a Deus para me fazer
graça”.
Meus irmãos e irmãs em Cristo,
que a paz do Senhor esteja com todos vós!
Em 1972, o Arquimandrita
Crisostomos Papasarantopoulos, auxiliado por sua sobrinha Olga Passarantou veio
trazer a Ortodoxia à R. D. C (República Democrática do Congo), principalmente
na província de Kananga. Depois de sua morte, ele foi sucedido pelo seu filho
espiritual, o Padre Hariton Pnevmatikakis (um homem de oração, um homem
espiritual que se dedicou à evangelização até a sua morte, em 1998; depois de
sua morte, foi substituído pelo seu filho espiritual, o Arquimandrita Ignatios
Mandelidiss – sagrado Arcebispo da África Central, alguns anos mais tarde pelo
Bem-aventurado Papa e Patriarca Petros VII, de eterna memória).
Graças aos missionários gregos Padres Crisostomos
e Hariton, a Ortodoxia se espalhou através do Congo. A R.D. C faz parte do
Arcebispado de África Central que contava antigamente com os países Rwanda,
Burundi. Hoje, contando só com dois países (República Democrática do Congo e
República do Congo), o Arcebispado de África Central é dirigido pelo Arcebispo Nikiforos
Micragiannanitis auxiliado por dois bispos e um arcebispo emérito “Monsenhor de
Pentápolis Ignatios Mandelidis”. Só a R.D. C conta com 35 templos construídos e
135 paróquias com templos em construção.
Bispo Meletios, Arcebispo emérito Ignatios e Arcebispo Nikiforos durante a colação de grau na Universidade Ortodoxa |
AuroraOrtodoxia: Sabemos que seu tio é monge ortodoxo. Que
influência isto tem em sua fé? Fale-nos um pouco de sua formação ortodoxa na
família.
Stephane Muntu: Nasci e cresci no seio de minha família materna,
longe de meus pais. Lá, aprendi com meus santos avós a fé ortodoxa e também a
cantar alguns hinos com meus tios maternos.
Aos 22 anos de idade, altura
em que pela primeira vez, vi e conheci meu pai pela primeira vez, talvez, eu
lhe pedi que ele abraçasse a fé ortodoxa e deixasse o protestantismo que
pregava na época. Ele resistiu até o belo dia em que, sob a influência de minha
querida e amável mãe, aceitou a fé ortodoxa. Não somente aceitou como se fez
batizar nas santas águas e recebeu o selo do dom do Espírito Santo.
Meu tio Jean-Paul, como era então
chamado no mundo, ele era e ainda é para mim um ídolo. Com ele, aprendi a jogar basquete e me apaixonar pelo
esporte, mas, como a vida é feita de surpresa, ele foi para o pequeno Monastério
de Santo Antônio, no centro de Kananga (cidade que me viu nascer e crescer)
onde serviu primeiramente como Neófito (noviço), vindo a receber, em seguida o
nome de HARITON, pelo então Arcebispo de África Central e hoje Arcebispo emérito
de Pentápolis, Ignatios Mandelidis, por altura de sua ordenação sacerdotal.
Depois de sua ordenação, o Arcebispo – meu Pai Espiritual de então – me
confiou-lhe como seu filho espiritual. Doravante, a ele me apresento não mais
como seu sobrinho, mas como seu filho espiritual.
Arcebispo Nikiforos e Hieromonge Hariton |
Aprendi e aprendo com ele
mesmo vivendo longe, muitas histórias sobre a vida de Santos, a Filocalia, os
escritos do Padre Paíssios, etc. Ele é meu exemplo em muitas coisas e não uma
influência. Vivo a Ortodoxia e me deixo influenciar pela beleza das imagens, o
cheiro do incenso e os santos mistérios. Ele mesmo não se sentiria bem se um
dia descobrisse ser uma influência. Afinal nenhum pai sentiria feliz se
descobrisse que é uma influência por seu filho. (risos).
Em verdade, sua vida
monástica não tem nada com minha fé ortodoxa. Nasci e sempre confessei a fé
ortodoxa, continuarei e ensinarei a Ortodoxia àqueles que não a conhecem. Ser
Ortodoxo ou viver a ortodoxia é pensar que a Igreja Ortodoxa se assemelha ao
corpo humano, tendo como cabeça nosso Senhor Jesus Cristo e os membros do corpo
somos nós, homens que n´Ele creêm através da pregação dos Apóstolos e seus
sucessores ao longo dos tempos, segundo a palavra do Senhor: “Todo poder Me foi dado no céu e sobre a
terr. Ide, portanto, e fazei discípulos , batizando-os em Nome do Pai, e do
Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a conservar tudo o que vos disse. E eis
que Eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos”. (Mt. 28:
19-20). Eu vivo segundo o Evangelho e não sob a influência de ninguém.
AuroraOrtodoxa: Onde foi que aprendeu a música bizantina? E o
idioma grego?
Stephane Muntu: Fiz meus estudos primários e secundários no seio da
Escola Grega “Luz das Nações”. Lá, aprendi não somente as matemáticas, as
ciências, mas também a cultura e a língua grega que, infelizmente, não domino.
Dois anos de grego moderno com um professor grego e 4 anos de grego clássico
com professores congoleses formados nas melhores Universidades da Grécia. Na
Escola, havia curso de música e a cada sexta-feira os alunos ortodoxos que
tinham a vontade de aprender a música bizantina se reuniam no seio da Missão com
os grandes salmistas para aprender. É assim que aprendi a cantar, em francês,
primeiramente, e em seguida, em grego.
Stephane Muntu cantando na Paróquia Ortodoxa Grega Sto. André o Primeiro Chamado Rio de Janeiro - 2012 |
AuroraOrtodoxia: Como a Igreja Ortodoxa se organiza na África?
Existem Bispos Ortodoxos Africanos? Igrejas construídas? Seminários?
Monastérios? Quantos Padres, Diáconos, Seminaristas?
Stephane Muntu: A Igreja Ortodoxa na África tem sua sede em
Alexandria (Egito) e como líder espiritual, o Pai e Sucessor do Santo Apóstolo
Marcos – o Papa e Patriarca. Cada país tem à sua frente além do Papa, que é o
grande sucessor do Apóstolo e Patrono da África Marcos, um Bispo ou Arcebispo.
Existem também sacerdotes, diáconos, monges e hieromonges (gregos ou
africanos).
Em alguns países da África,
existem Bispos africanos que trabalham para o bem-estar da Igreja,
evangelizando a palavra de nosso Deus e Salvador Jesus Cristo.
Muitas igrejas são construídas
a fim de permitirem aos ortodoxos de orarem ao Bom Deus. Em meu país, R.D.
Congo, por exemplo, existem muitas igrejas construídas, mais de 100 sacerdotes,
diáconos e uma dezena de monges e monjas ao serviço dos fiéis.
A República Democrática do
Congo é um dos países africanos onde a Ortodoxia domina. Um Arcebispo, dois
Bispos auxiliares, um Arcebispo emérito trabalham juntos para o bem da nação
ortodoxa. Duas estações de rádio “A voz da Ortodoxia” animam, todos os dias,
tanto os ortodoxos como os não-ortodoxos com a música cristã, homilias, etc.
Construção de novo templo e escola |
Sagrada Liturgia em Kananga - Papa de Alexandria com Arcebispo emérito Catedral de Sto. André |
Arcebispo Nikiforos visitando um dos terrenos da Igreja em companhia de clérigos |
Os seminários são organizados
a cada ano, e a cada dia da semana existem encontros de jovens “Jovens
Lutadores”, de pais, e diversos, todos com sacerdotes congoleses ou
estrangeiros e Irmãs gregas que falam sobre a fé ortodoxa.
AuroraOrtodoxia: Sabemos que a Igreja Ortodoxa por lá é bem mais
forte e organizada do que no Brasil. Como você vê a realidade ortodoxa aqui no
Rio de Janeiro?
Stephane Muntu: Cinco anos no Brasil, por vezes me chego a
perguntar: “Será que a fé que estou vivendo no Brasil é a mesma fé ortodoxa que
aprendi e que me foi ensinada desde minha infância?” Não quero dizer com isso
que a Ortodoxia no Rio de Janeiro é diferente daquela que eu conheci junto aos
meus, não eu não digo isto. Falo da maneira com a qual o povo se comporta na
igreja, por exemplo, na hora da Comunhão. Isto não me dá a imagem de Ortodoxia
que conheci. 10 ou 20% se comportam e vivem a Ortodoxia, a Fé Ortodoxa.
Em meu país, aprendi que
somente a pessoa batizada na Igreja Ortodoxa tem o direito de participar e tomar
a Santa Comunhão. Mas, aqui no Brasil, quando o sacerdote sai com o Cálice e
diz: “Aproximai-vos com fé, amor e temor de Deus”, vejo até não-ortodoxos
comungarem. Então eu me pergunto: “Onde está o respeito para com as leis dos
Santos Padres?” Após o cisma, ortodoxos e não-ortodoxos não podem jamais comer
juntos (comer num sentido de comungarem juntos do mesmo cálice). É melhor eu
parar por aqui, porque estou a falar besteiras... (risos).
A realidade ortodoxa no RJ
está ainda às escuras e adoraria que aqueles ou aquelas que sabem o verdadeiro
sentido da Ortodoxia ensinem aos outros.
Stephane Muntu cantando durante o Encontro "A Beleza do Sagrado II" Catedral Ortodoxa da SS. Virgem Maria - RJ 2010 em companhia dos Arciprestes Bento (Freitas) e Basílio (Romero) |
AuroraOrtodoxia: Qual seu ponto de vista para o futuro da Ortodoxia
no Brasil?
Stephane Muntu: Se todo mundo começasse por fazer o que é justo, a
Ortodoxia no Brasil encontraria um sentido verdadeiro. Que Deus tenha piedade
de Seu povo.
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