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África tem
todos os problemas ambientais que existem no resto do mundo, só que mais
graves devido ao estado de desenvolvimento económico e a vários regimes
políticos, defendeu hoje um responsável de uma associação ambiental
portuguesa.
"O continente africano tem todos os problemas ambientais que existem no resto do mundo, mas são mais graves ainda do que a média por uma série de contingências que têm a ver com o estado de desenvolvimento económico e com os regimes políticos. Não há nenhum setor ambiental que esteja bem em África, infelizmente", disse.
Os setores são muitos e estão diretamente ligados às alterações climáticas, à ação do homem e a interesses políticos e económicos, salientou, lembrando também a "vulnerabilidade" de alguns Estados africanos.
A falta de água potável, aumento do nível das águas do mar, que está a acidificar e a contaminar os lençóis freáticos em terra, o lixo e os resíduos sólidos, as queimadas, a desflorestação, a desertificação, as secas, as inundações, a perda da biodiversidade e o ordenamento do território são alguns dos problemas apontados por João Branco.
Nesse sentido, defendeu a aposta nas energias renováveis, maior sensibilidade dos regimes políticos para as questões ambientais, campanhas de sensibilização junto das populações e a educação para o ambiente nos ensinos básico e secundário.
Questionado pela Lusa sobre o que espera da reunião de Nova Iorque, preparatória da Cimeira de Paris, prevista para o final do ano, o responsável da Quercus disse ser "muito importante" que os poderes político e económico interiorizem e financiem os problemas há muito identificados por investigadores pelas ONG.
"É muito importante que os objetivos sejam definidos, que se identifiquem os problemas e as metas. Mas não espero mais do que isso. A grande questão é saber quem vai pagar todo esse processo de desenvolvimento sustentável. Não me parece que os países que podem pagar, os ricos, tenham disponibilidade para o fazer", lamentou.
"O conjunto das nações tem de admitir publicamente e de forma coletiva que há problemas. Isto é só o primeiro passo, pois está tudo por fazer. Mas é um primeiro passo e nós congratulamo-nos", acrescentou.
Para João Branco, os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis (ODS, que abrangem 169 metas e que sucedem aos oito Objetivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM, 2000/15)) têm de contar com vontade política de todos os países e com recursos para os financiar, "a grande questão, afinal".
"Nos ODS há a erradicação da pobreza. Se alguns Estados europeus não conseguiram resolver este problema como se pode esperar que o consigam em África? Se não se consegue erradicar a pobreza em Portugal como se vai conseguir fazê-lo em Moçambique? Se não se consegue proteger a natureza e a biodiversidade nos países desenvolvidos, como se vai fazê-lo nos países em desenvolvimento?", questionou.
As energias renováveis no continente africano podem ser uma solução, mas desde que sejam planeadas, "o que não acontece", sublinhou, dando como exemplo o caso mais flagrante, o das barragens, que se constroem sem estudos de impacto ambiental e sem consultas públicas prévias.
"Em África nada disso se faz. Constroem-se barragens em África de forma totalmente desordenada, sem qualquer estudo de impacto ambiental, afetando até parques nacionais", referiu, exemplificando com os casos de Kapanga (na bacia do rio Cuanza, Angola) e de Crocodile River (que atravessa o Kruger Park, África do Sul).
"A conservação da natureza não tem qualquer peso nem influência nas construções", criticou, estendendo as críticas à questão da gestão dos resíduos sólidos, sobretudo nas grandes cidades africanas, em que são milhões as garrafas de plástico e de latas, não biodegradáveis, que as inundam, pois não há recolha de lixo, alertou.
"O lixo não tem tratamento, não é reciclado e nem sequer é colocado em aterros sanitários, que também não há. E também não há esgotos", concluiu, retomando a ideia de que a questão do ambiente no continente africano "não tem solução no curto prazo".
JSD // PJA
Lusa/Fim
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