Arquidiocese Ortodoxa de Buenos Aires
Hoje, o universo inteiro, cheio de alegria,
na insigne festa da Mãe de Deus, exclama:
Eis aqui o celeste tabernáculo!
Ana hoje nos preanuncia a alegria [ ... ]:
cumprindo o seu voto apresenta ao Templo do Senhor
aquela que é verdadeiramente
o templo do Verbo de Deus e sua Mãe puríssima.
ssim,
já no dia 20 de novembro, a Igreja de tradição constantinopolitana
exulta na véspera da festa da entrada ao Templo da Santíssima Mãe de
Deus, que se concluirá em 25 de novembro. É uma das Doze grandes festas
do ano litúrgico bizantino e coincide, como data, com o calendário
romano. Mas qual riqueza hinográfica o Oriente nos transmitiu em seus
textos litúrgicos! A festa de origem hierosolimitana celebrava a festa
da dedicação da igreja de Santa Maria Nova (no tempo do imperador
Justiniano, em novembro do ano 543).
Desde as Vésperas iniciais, um dos temas mais
freqüentes é o convite a honrar aquela que é "o santo tabernáculo, a
arca espiritual que contém o Verbo infinito," "o templo animado da santa
glória de Cristo"embora o evento da encarnação esteja cronologicamente
ainda longe. Com efeito, repete-se várias vezes que a menina apresentada
ao templo tinha três anos. Evidentemente aqui se considera o plano de
Deus na sua globalidade, pelo qual já se pode aclamar:
Tu és o oráculo dos profetas, a glória dos apóstolos,
o orgulho dos mártires e a renovação de todos os mortais,
ó Virgem Mãe de Deus.
Por isso honramos a tua entrada no templo do Senhor
e, juntamente com o anjo,
te saudamos com os nossos cânticos,
nós que fomos salvos pela tua intercessão.
(Ofício de Vésperas).
A exuberância oriental é bem diversa da
sobriedade e concisão latina; além disso, notamos, com freqüência, no
"próprio" bizantino referências ao Proto-evangelho de São Tiago, do qual
são lembrados muitos detalhes: as meninas que acompanharam Maria com as
lâmpadas acesas, o grão-sacerdote Zacarias que a introduziu no templo e
no Santo dos Santos, o alimento que o anjo Gabriel lhe levou até o dia
de suas núpcias com José. Os hinos litúrgicos dessa festa estão repletos
de elementos lendários, dificilmente aceitos por um fiel ocidental, mas
é preciso entender que no Oriente se deu a eles um valor simbólico de
verdades mais elevadas, como a total consagração a Deus de Maria
Santíssima desde a mais tenra infância e a sua preparação excepcional à
missão única de gerar ao mundo o Redentor. Um estudioso de liturgia
bizantina observa:
— «O temperamento ocidental, apaixonado pela
exatidão histórica e que julga com esse critério os próprios dados da
sua vida religiosa, só podia desdenhar a lenda piedosa da apresentação
de Maria ao templo. Completamente diferente é a atitude do oriental;
pode estar perfeitamente a par da inautenticidade histórica de um relato
sem por isso rejeitá-lo. Ele busca nos fatos da história sagrada, mesmo
nos perfeitamente estabelecidos, não tanto a sua verdade humana quanto o
seu conteúdo divino.»
O ícone da festa é caracterizado por certa
fixidez. Pode-se notar que, em cima de um estrado, o sacerdote Zacarias
acolhe a pequena Maria, que tem um olhar maduro e vestes de pessoa
adulta; atrás dela está uma menina e, segurando uma vela, símbolo da
oferta, estão Joaquim e Ana. Na cena do ângulo superior à direita, o
anjo Gabriel leva a comida para a menina, como é lembrado pelo tropário
que se segue:
No Santo dos Santos,
a Santa e Imaculada é introduzida pelo Espírito Santo
para ali habitar e ser nutrida por um anjo;
ela é o templo mais santo do Deus Santo;
com o seu ingresso santifica todas as coisas
e diviniza a natureza decaída.
Passamos assim à poesia da hinografia litúrgica. Eis o texto das
preces mais repetidas no dia 21 de novembro e nos dias de pós-festa:
Hoje é o prelúdio da benevolência de Deus
e a proclamação preliminar da salvação dos homens:
a Virgem apresenta-se com esplendor no templo de Deus
e antecipadamente anuncia Cristo a todos.
A ela, nós também clamemos em alta voz:
Salve, ó realização dos planos do Criador.
Tropário (4º tom)
O puríssimo templo do Salvador, a Virgem,
o preciosismo tálamo, o sagrado tesouro da glória de Deus,
é apresentada hoje à casa do Senhor,
introduzindo com ela a graça do Espírito divino.
Os anjos de Deus a louvam, clamando:
Esta é o tabernáculo celeste.
Kondakion (4º tom)
As três leituras vetero-testamentárias que se
proclamam nas Vésperas da festa evocam as disposições dadas por Jeová a
Moisés para que erigisse "o Tabernáculo, a tenda de reunião" (Ex. 40), a
"arca da Aliança" que Salomão colocou no templo (1 Rs. 8) e a "porta
fechada" vista por Ezequiel (Ez. 44). São todas figuras bíblicas muitas
vezes aplicadas à Virgem. Venerando desde a mais remota Antigüidade a
santidade sublime de Maria, no Oriente bizantino a reflexão se deteve
sobre a misteriosa preparação da Escolhida para a missão que Deus lhe
confiou. Por isso, é importante a festa de 21 de novembro, em que nós
também, celebrando as primícias da nossa salvação, podemos rezar com as
palavras de um tropário da Ode nona do Cânon matutino que dizem:
Ó imaculada Mãe de Deus,
tu tens na alma a beleza resplandecente da pureza,
és cheia de graça celestial;
tu iluminas sempre com eterna luz
os que com alegria exclamam:
Na verdade, tu és a mais excelsa de todas as criaturas,
ó Virgem pura!
Fonte:
«O ANO LITÚRGICO BIZANTINO»
Madre Maria Donadeo
Veja também
A Sagrada Escritura e a Igreja Ortodoxa
O Evangelho do Domingo de Todos os Santos